Dr. Carlos Eduardo Dias

Atualizado em 08/10/2024

Tempo de leitura: 5 minutos

 

Tontura, vertigem ou labirintite?

Tonturas e vertigens podem ser incapacitantes, apresentando-se ocasionalmente como um leve incômodo, com perda de equilíbrio e falsa sensação de movimento ou em alguns casos, com sintomas mais fortes, como vertigens intensas (sensação de que o ambiente está girando), que podem levar a episódios de queda ou a necessidade de permanecer deitado(a).

Grande parte dos pacientes que sofrem com tonturas e vertigens tem VPPB sem saber, realizando normalmente o tratamento medicamentoso, como se estivesse tratando uma Labirintite.

Quais remédios ajudam no tratamento da VPPB?

Atualmente não existe tratamento medicamentoso para VPPB, pois nenhum é capaz de reposicionar as partículas dispersas. Como pacientes com VPPB podem sentir enjôo, apenas são orientados para fazerem uso de Dramin ou Vonau.

Tonturas raramente são sinais de algo grave, mas devido ao grande incômodo, risco de queda e ausências no trabalho, devem ser tratadas com brevidade, evitando que se torne um processo crônico ou que nos acostumemos a viver com elas.

Por serem sintomas de diversas doenças e disfunções, o diagnóstico pode ser desafiador, ocasionalmente sendo necessário um acompanhamento multidisciplinar.

Normalmente as tonturas e vertigens são causadas por distúrbios do ouvido, pescoço e ATM, porém, há possibilidade de serem causadas também por dietas (ingestão de café, açúcar, chocolate), restrições alimentares (intolerância e alergias) e por efeitos adversos de medicamentos.

No texto abaixo falaremos da principal causa de tonturas, sendo ocasionalmente diagnosticada de maneira genérica como Labirintite.


Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB)

Normalmente, as tonturas e vertigens estão relacionadas ao ouvido, mais especificamente ao labirinto, que é uma estrutura do ouvido interno. É daí que vem o termo "labirintite", que é comumente utilizado para se referir às disfunções dessa estrutura.

O principal sintoma da VPPB é a vertigem, que é a sensação de que o indivíduo ou o ambiente estão se movendo, onde classificaremos como leve e forte.

  • Leve: sensação de que o ambiente se move/balança e/ou sensação constante de tontura e perda de equilíbrio;
  • Forte: sensação de que o ambiente está girando em alta velocidade;
     

Os sintomas normalmente são ocasionados por movimentos de cabeça ou alterações posturais, como por exemplo:

  • Olhar para cima e para baixo;
  • Olhar para os lados enquanto em pé ou sentado;
  • Deitar-se ou levantar-se;
  • Virar-se para os lados enquanto deitado

Ao realizar os movimentos descritos acima, há o aparecimento dos sintomas, que pode durar poucos segundos ou vários minutos, sendo o primeiro dia de crise o mais intenso (é comum que os sintomas permaneçam por algumas horas).

Os sintomas iniciam após os movimentos de cabeça devido ao movimento das micropartículas de carbonato de cálcio dentro do labirinto, que deslocam-se do seu local de origem para canais onde deveriam estar apenas preenchidos com um líquido chamado endolinfa.

Quais as principais queixas do paciente com VPPB?

  • Tontura ao deitar
  • Tontura ao levantar
  • Tontura ao virar na cama
  • Tontura ao deitar de lado
  • Tontura ao olhar para cima e para baixo
  • Sensação de que o ambiente está se movendo ou girando
  • Tontura repentina
  • Tontura ao virar a cabeça no travesseiro
  • Dor de cabeça
  • Sensação de cabeça pesada ou leve
  • Sono excessivo

Como é o diagnóstico da VPPB?

O diagnóstico da VPPB é feito através de manobras específicas. As manobras visam provocar os sintomas em determinadas posições de cabeça, acelerando o movimento das partículas no ouvido. A principal manobra realizada para o diagnóstico da VPPB é a Manobra de Dix-Hallpike.

Manobra de Dix-Hallpike para VPPB

Manobra de Dix-Hallpike, utilizada para o diagnóstico da Vertigem Posicional Paroxística Benigna.

A Reabilitação Vestibular é uma abordagem terapêutica segura e eficiente para o tratamento de tonturas, especialmente aquelas relacionadas a distúrbios do sistema vestibular. Essa técnica envolve exercícios específicos que visam melhorar a coordenação e a adaptação do sistema nervoso, ajudando o corpo a se ajustar a mudanças no equilíbrio e na percepção espacial.

Uma das principais vantagens da Reabilitação Vestibular é que ela é personalizada, levando em consideração as necessidades individuais de cada paciente. Os exercícios são projetados para promover a habitução, ou seja, a redução da sensibilidade a estímulos que causam tontura. Além disso, a reabilitação vestibular é não invasiva e geralmente bem tolerada, com poucos efeitos colaterais.

Estudos demonstram que muitos pacientes experimentam uma significativa melhora na qualidade de vida após o tratamento, conseguindo retomar suas atividades diárias com mais confiança e menos desconforto. Assim, a reabilitação vestibular se mostra uma opção eficaz e segura para aqueles que sofrem de tonturas, promovendo não apenas alívio dos sintomas, mas também uma recuperação funcional.


Como tratar a VPPB?

O tratamento da VPPB é realizado através de Manobras de Reposicionamento, que visam levar as partículas de carbonato de cálcio (otocônias) para seu local de origem, removendo-as dos canais semicirculares. As Manobras de Reposicionamento são normalmente executadas por Fisioterapeutas após seu diagnóstico na mesma consulta. É importante informar que medicamentos não possuem eficácia no tratamento da VPPB, sendo utilizados apenas para controle dos sintomas.

As principais Manobras de Reposicionamento são:

  • Manobra de Epley
  • Manobra de Lempert
  • Manobra de Semont
  • Manobra de Gufoni
  • Manobra de Yacovino

Veja como as manobras são realizadas:



As manobras devem ser realizadas por profissionais habilitados, pois é imprescindível o diagnóstico preciso do canal semicircular acometido. A realização de forma incorreta pode piorar os sintomas.

Outras possíveis causas de tontura:

Vertigem Cervicogênica

A vertigem cervicogênica é uma condição em que a vertigem é provocada por problemas na coluna cervical, geralmente devido a alterações musculoesqueléticas, como tensões, lesões ou degeneração das vértebras. Os pacientes podem apresentar episódios de vertigem que são frequentemente acompanhados por dor no pescoço, restrição de movimento e desconforto.

A condição pode ser confundida com outros tipos de vertigem, por isso um diagnóstico adequado é fundamental. O tratamento geralmente envolve fisioterapia, exercícios de reabilitação vestibular e, em alguns casos, medicamentos para controlar os sintomas.


Migrânea Vestibular ou Enxaqueca Vestibular

A migrânea vestibular é uma condição neurológica caracterizada por episódios recorrentes de vertigem ou desequilíbrio que podem ocorrer em associação com dores de cabeça. Pacientes com migrânea vestibular podem experimentar episódios de vertigem que duram de minutos a várias horas, frequentemente acompanhados por sintomas como náuseas, fotofobia e fonofobia.

A condição é mais comum em mulheres e pode ser desencadeada por fatores como estresse, alterações hormonais, certos alimentos e falta de sono. O tratamento pode incluir medicamentos preventivos para a migrânea, reabilitação vestibular e mudanças no estilo de vida para evitar os gatilhos.


Disfunção da ATM (Disfunção Temporomandibular)

A disfunção temporomandibular (DTM) refere-se a um grupo de condições que afetam a articulação temporomandibular (ATM) e os músculos que controlam os movimentos da mandíbula. Os sintomas comuns incluem dor na mandíbula, estalos ao mover a boca, dor de cabeça e, em alguns casos, tontura. A relação entre DTM e tontura pode estar ligada à complexidade das estruturas envolvidas, uma vez que a ATM é próxima do ouvido interno e das estruturas vestibulares responsáveis pelo equilíbrio.

A tontura pode ocorrer devido a alterações na postura, tensão muscular ou espasmos que afetam o equilíbrio. O diagnóstico geralmente é feito por um dentista ou especialista em dor orofacial, que avalia a função da ATM e os sintomas associados.

O tratamento pode incluir fisioterapia, uso de dispositivos de descanso da mandíbula (placas oclusais), medicamentos para controle da dor e, em casos mais severos, intervenções cirúrgicas.


Hipotensão Ortostática

A hipotensão ortostática é uma condição em que a pressão arterial cai significativamente ao mudar de posição, como ao levantar-se de uma posição sentada ou deitada. Isso pode resultar em sintomas como tontura, fraqueza, visão turva e até desmaios. A condição ocorre quando o corpo não consegue regular adequadamente a pressão arterial em resposta à gravidade.

As causas podem incluir desidratação, efeitos colaterais de medicamentos, distúrbios neurológicos e condições cardíacas. O diagnóstico é feito com base nos sintomas e medições da pressão arterial em diferentes posições.

O tratamento pode incluir aumento da ingestão de líquidos e sal, uso de medicamentos para aumentar a pressão arterial e medidas de estilo de vida, como levantar-se lentamente.


Síndrome de Ménière ou Doença de Ménière

A doença de Menière é um distúrbio do ouvido interno que afeta a audição e o equilíbrio. É caracterizada por episódios recorrentes de vertigem (sensação de que o ambiente está girando), perda auditiva flutuante, zumbido (tinnitus) e uma sensação de pressão ou plenitude no ouvido afetado. Acredita-se que a condição seja causada pelo acúmulo excessivo de fluido no ouvido interno, embora a causa exata ainda não seja completamente compreendida.

O tratamento pode incluir mudanças na dieta (como redução de sal), medicamentos para controlar os sintomas, reabilitação vestibular e em casos mais graves, intervenções cirúrgicas para aliviar a pressão no ouvido interno.


Cinetose

A cinetose, também conhecida como "doença do movimento" ou "mal de movimento," é uma condição que ocorre quando há um conflito entre os sinais sensoriais que o cérebro recebe sobre o movimento. Isso geralmente acontece durante atividades como viajar de carro, barco ou avião, onde o movimento percebido pelo ouvido interno não corresponde ao que os olhos veem. Os sintomas típicos incluem náuseas, vômitos, tontura, sudorese e, em alguns casos, palidez.

Os tratamentos incluem reabilitação vestibular, técnicas de adaptação, como evitar leitura ou olhar para telas durante o movimento, bem como o uso de medicamentos antieméticos, que podem ajudar a aliviar os sintomas.


Neurite Vestibular

A neurite vestibular é uma condição caracterizada pela inflamação do nervo vestibular, que é responsável por transmitir informações do ouvido interno ao cérebro sobre o equilíbrio. Essa condição geralmente resulta em episódios súbitos e intensos de vertigem, acompanhados de náuseas e dificuldades de equilíbrio.

A causa exata da neurite vestibular não é sempre clara, mas pode estar relacionada a infecções virais, como as que afetam o sistema respiratório. O tratamento inclui medicamentos para controlar os sintomas de vertigem, como antieméticos e vestibuloliticos, além de reabilitação vestibular para ajudar na recuperação do equilíbrio.


TPPP - Tontura Postural Perceptual Persistente (Vertigem Fóbica)

A TPPP (Tontura Postural Perceptual Persistente) é um transtorno crônico caracterizado por uma sensação constante ou quase constante de tontura, instabilidade e desequilíbrio. Esse tipo de tontura não está relacionado a um problema estrutural no sistema vestibular, mas sim a uma disfunção no processamento sensorial do cérebro, muitas vezes exacerbada por fatores psicológicos, como estresse e ansiedade.

Características principais:

• Sensação de desequilíbrio sem causa física aparente: O indivíduo relata uma sensação de instabilidade ou flutuação, especialmente em situações que não costumam provocar tontura em outras pessoas, como estar em locais amplos ou movimentados.

• Ansiedade associada: Muitas vezes, a vertigem fóbica está associada a transtornos de ansiedade, incluindo fobias ou crises de pânico. A tontura pode ocorrer em situações estressantes ou ser desencadeada por medos específicos, como medo de cair ou de perder o controle.

• Episódios intermitentes: A vertigem fóbica tende a se manifestar de forma episódica, com períodos em que a pessoa sente-se bem, seguidos por momentos de intensa tontura. Esses episódios geralmente não estão relacionados a mudanças bruscas de posição.

• Ausência de alterações nos exames clínicos: Embora o paciente relate sintomas intensos, os exames físicos e neurológicos normalmente não detectam anormalidades que justifiquem a sensação de tontura, indicando que a causa está mais relacionada a aspectos emocionais e psicológicos.

• Hipervigilância ao equilíbrio: Pessoas com vertigem fóbica podem se tornar excessivamente preocupadas com seu equilíbrio, ficando constantemente atentas a qualquer sensação de instabilidade, o que acaba exacerbando o problema.

Entrevista

Assista minha entrevista ao canal Rede Mais Família, onde falamos sobre a VPPB - Vertigem Posicional Paroxística Benigna, com a participação da Otorrinolaringologista Dra. Renata Torres.